Primavera climática: La Niña acende o alerta para impactos à resiliência urbana e biodiversidade
Com impactos sociais e sobre a biodiversidade, alterações nos regimes de chuva reforçam a urgência de investir em Soluções Baseadas na Natureza
Dulce Moraes
Conexão In Natura.
A estação das flores, tradicionalmente marcada por temperaturas amenas e pelo florescimento das árvores, começou de forma bem diferente neste ano.
Rajadas de vento superiores a 90 km/h atingiram cidades paulistas no primeiro dia da estação. Na capital, em poucas horas, o cenário foi de caos: mais de 130 árvores caídas, desabamentos, alagamentos e interrupção no fornecimento de energia elétrica que afetou mais de 500 mil pessoas.
A continuidade desses eventos extremos tem trazido impactos ainda não totalmente mensurados sobre os ecossistemas, a produção de alimentos e a saúde das populações urbanas.
Temporada La Niña 2025-2026

Além da Primavera, o fenômeno climático La Niña — já confirmado pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA) — deverá influenciar o regime de chuvas e as temperaturas no Brasil até o verão.
Segundo a meteorologista Patrícia Cassoli (Climatempo), mesmo com intensidade menor que nos anos anteriores, o fenômeno deve afetar todas as regiões brasileiras entre novembro e fevereiro.
Estão previstas chuvas acima da média nas regiões Norte e Nordeste, tempo mais seco no Sul — com risco de estiagens agrícolas — e maior vulnerabilidade a incêndios no Pantanal e na Amazônia, caso as precipitações diminuam nos meses críticos.
Resiliência urbana está na natureza
O comportamento climático cada vez mais instável exige das cidades respostas integradas que unam ciência, planejamento urbano e preservação da natureza.

Para a arquiteta e urbanista Riciane Pombo, especialista em Soluções Baseadas na Natureza (SbN) e fundadora da Guajava Arquitetura da Paisagem e Urbanismo, o enfrentamento à crise climática passa por reaprender a enxergar a natureza como infraestrutura essencial.
“Diante dos extremos climáticos, não basta apenas adaptação ou mitigação de danos. É preciso preveni-los, ao mesmo tempo em que se transforma a forma como nossas cidades vêm sendo construídas.”
Riciane Pombo
Para a urbanista, é urgente a necessidade de mudar a relação de governos e sociedade com árvores, rios urbanos e biodiversidade — elementos que influenciam diretamente as paisagens e a manutenção da vida.
“O conhecimento sobre Soluções Baseadas na Natureza precisa estar presente nas políticas públicas, nos planos climáticos das cidades e também no cotidiano das pessoas. Isso significa priorizar o manejo adequado das árvores urbanas, investir em drenagem naturalizada e popularizar planos de contingência frente aos desastres climáticos.”
Riciane Pombo
Consequências dos eventos climáticos na Primavera

Perda da Biodiversidade
Sendo a estação da reprodução de aves e insetos polinizadores, tempestades e destruição de habitats interrompem esses ciclos, comprometendo a regeneração natural

Risco à Segurança Alimentar
Os ventos fortes, estresse hídrico e temperaturas irregulares prejudicam o florescimento das plantas e, consequentemente, a polinização — base da agricultura.

Ilhas de Calor e Raios
A queda de árvores adultas reduz a cobertura vegetal urbana, elevando as temperaturas locais, a força dos ventos.

Riscos à Saúde
Menos árvores significam mais poluição, maior incidência de doenças respiratórias e intensificação de enchentes e deslizamentos, agravadas pela impermeabilização do solo urbano.
A primavera, símbolo de renovação, agora precisa representar também resistência e adaptação. Para que cidades sigam floridas, habitáveis e resilientes, é essencial investir em infraestrutura verde, educação ambiental e reconexão entre o urbano e a natureza. O clima está mudando e nós que precisamos mudar.
👉 Conheça os projetos e estudos da Guajava sobre Soluções Baseadas na Natureza